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domingo, 8 de abril de 2012

Poema de António Cabral - LEONOR!

"Leonor" (do poeta duriense António Magalhães Cabral) é poema musicado pelos Xícara!
António Joaquim Magalhães Cabral (Castedo do Douro, 30 de Abril de 1931 - Vila Real, 23 de Outubro de 2007) foi um escritor, dramaturgo, poeta e ensaísta português.
António Cabral frequentou o curso teológico do Seminário de Vila Real e obteve a licenciatura em Filosofia pela Universidade do Porto. Depois de abandonar a vida sacerdotal, ingressou no ensino secundário, sendo professor efectivo da Escola Secundária Camilo Castelo Branco. A partir de 2001 foi professor de Cultura Geral, na Universidade Sénior de Vila Real. Era conhecido pelas suas conferências em centros culturais, escolas do ensino básico, secundário e universitário, tanto em Portugal como no estrangeiro, Galiza e Alemanha sobretudo, falando de temas que lhe eram preferidos, tais como literatura, jogos populares e pedagogia do jogo.
Como animador sociocultural, fundou em 1979 o Centro Cultural Regional de Vila Real, do qual foi Presidente da Direcção até 1991, ano em que passou a ser o Presidente da Assembleia Geral. Foi sobretudo na investigação e organização de festas de jogos populares que a sua acção se tornou mais notória. Através deste Centro promoveu cinco encontros de escritores e jornalistas de Trás-os-Montes e Alto Douro: em Vila Real (1981), Chaves (1983), Bragança, Mirandela e Miranda do Douro (1984), Lamego, Régua e Alijó (1985) e Vila Real (1997). Foi perito do Conselho da Europa no II Estágio Alternativo Europeu sobre Desportos Tradicionais e Jogos Populares, realizado em Lamego, em 1982. Foi ainda o principal responsável pela organização dos Jogos Populares Transmontanos e Jogos Populares Galaico-Transmontanos, com início respectivamente em 1977 e 1983. No Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis, que antecedeu o Instituto da Juventude, desempenhou os cargos de Delegado do Distrito de Vila Real e Coordenador da Zona Norte, entre 1974 e 1976. Foi Presidente da Direcção e mais tarde Presidente da Assembleia Geral, da Associação Nacional de Animadores Socioculturais, fundada em 1995. Desde Março de 1996 até final de Janeiro de 2004, foi Delegado do INATEL no Distrito de Vila Real, o que lhe permitiu privilegiar a cultura popular.
No domínio das letras e das artes fundou em Vila Real, em 1962, a revista Setentrião, a revista Tellus de que foi o primeiro director em 1978, e o mensário Nordeste Cultural, em 1980. Era membro do Conselho de Redacção da revista galaico-portuguesa O Ensino. Foi agraciado com as medalhas de prata de mérito municipal de Alijó (1985) e de Vila Real (1990). Foi seleccionado para Maletas Literárias de duzentos livros portugueses, no programa Territórios Ibéricos em 2004-2005. Teve uma colaboração dispersa por revistas e jornais portugueses e estrangeiros, salientando-se a colaboração semanal entre Novembro de 1993 e Janeiro de 1995 no jornal Público, com textos sobre tradições populares. Colaborou ainda com o Semanário Transmontano, com o jornal Entre Letras, de Tomar, e com os periódicos Notícias do Douro e Notícias de Vila Real. Teve participação em programas de rádio e de televisão, colectâneas escolares, obras colectivas e antologias de poesia, tais como Poesia Portuguesa do Pós-Guerra, Poesia 71, Oitocentos Anos de Poesia Portuguesa, Hiroxima, Vietname, Poemabril, Ilha dos Amores, O Trabalho, Poetas Escolhem Poetas. Alguns poemas de António Cabral foram cantados por Manuel Freire, Adriano Correia de Oliveira e Francisco Fanhais. Prefaciou e/ou fez a apresentação de diversos livros, entre eles, Cantar de Novo, de José Afonso e Ser Torga, de Fernão Magalhães Gonçalves e também de obras de escritores transmontanos com projecção nacional como Bento da Cruz e António Manuel Pires Cabral. (Fonte Wikipédia)
LEONOR

A Leonor continua descalça,
o que sempre lhe deu certa graça.

Pelo menos não cheira a chulé
e tem nuvem de pó sobre ò pé.

Digam lá se as madames do Alvor
são tão lindas como esta Leonor

Um filhito ranhoso na mão,
uma ideia já podre no pão.

Meia dúzia de sonhos partidos,
a seus pés, como cacos de vidros.

Digam lá se as madames do Alvor
são tão lindas como esta Leonor.

- António Cabral, Antologia dos Poemas Durienses, Chaves, Edições Tartaruga, 1999.


terça-feira, 30 de abril de 2013

A UMA OLIVEIRA

Velha oliveira, ó irmã do tempo e do silêncio,
algo de ti se me tornou hoje perceptível;
algo que eu não conhecia e me fez parar
na ténue sombra que teces no caminho;
algo que é uma doce corola de contacto.

Já os passos da luz se afastam na colina
e um rumor de pérolas quebradas
desce, lentamente desce por toda a serrania.
Já as aves tuas amigas procuram na folhagem
a doçura acumulada nos favos da noite.
E também já são horas
de nós os homens, nós os que passamos,
suspendermos as cítaras do pensamento.

Entretanto, ó canção do crepúsculo, velha oliveira,
eu paro sob os longos cílios da tua ramagem.
Paro e, ao sentir nas mãos o teu enrugado tronco,
e, nos olhos, a serenidade das tuas folhas,
começo a entender uma bela mensagem:
a paz, ah a paz!, a rosa da paz.

É como se uma gota de azeite descesse,
brandamente descesse pelas coisas.

- António Cabral [António Joaquim Magalhães Cabral (Castedo do Douro - Alijó) Vila Real, nasceu a 30 de Abril de 1931 e faleceu a 23 de Outubro de 2007 em Vila Real com 76 anos].
Clique  nas imagens para ampliar. Imagens e poema enviados por Dr. José Alfredo Almeida (JASA) e editadas para este blogue. Edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Abril de 2013. Este artigo pertence ao blogue Escritos do DouroSó é permitida a reprodução e/ou distribuição dos artigos/imagens deste blogue com a citação da origem/autores/créditos.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

DOURO, MEU BELO PAÍS



Douro, meu belo país do vinho e do suor,
bárbaro canto arrancado à penedia
por um destino que nos faz andar
da alma para os olhos, dos olhos para a alma!
Douro, eh lá, uma nova era se anuncia
e traz aos nossos ouvidos uma promessa de rosas.
Ouço já o crepitar das metralhadoras da paz,
esses corações de aço que se chamam tractores.
Ouço-os e uma visão de terra alegre,
alegre como um tesoiro descoberto,
rasga-se, sob o nosso espanto, na tua carne.
Não mais as horas fechadas como punhos
e os morros inóspitos de carqueja bravia.
O tempo estender-se-á na nossa esperança,
claro, claro como um leito nupcial;
nos valados correrá um sol caudaloso,
fulminando, ao seu contacto, os fantasmas da miséria.
Eh lá, Douro, meu belo cavaleiro enamorado
por uma dama que fugia na tua angústia,
depõe, finalmente, os velhos trapos
de matagais, escombros e vinhas amortecidas.
As enxadas deixarão de cavar o desespero;
o ferro e a pá arrumar-se-ão nos arquivos da memória.
Onde irá o tempo das vacas magras
quando um tractor cantar em cada monte
a deliciosa canção da fecundidade?!
Haverá muitos tractores, haverá mais armas
apontadas aos baluartes da fome.
Haverá mais pão, haverá mais rosas.
Eh Douro, meu belo país!
                     
- Do poeta duriense António Cabral, in Antologia dos Poemas Durienses. Clique na imagem acima para ampliar.
:: -- ::
Em memória de António Cabral:
Colaboração de texto e imagem do Dr. José Alfredo Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Julho de 2011.

sábado, 20 de agosto de 2011

A Régua - (no amanhecer...!)


A Régua
assemelha-se a um pensamento
com sucessivas ideias
prestes a entrarem nos lábios
do rio.

- Do poeta António Cabral - In Antologia da Poesia Contemporânea de Trás-os-Montes e Alto Douro, da autoria de Carlos Loures - Colecção Setentrião.
 
Ligações:
Colaboração de texto e imagem do Dr. José Alfredo Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Agosto de 2011. Clique na imagem acima para ampliar.

domingo, 12 de junho de 2011

DICIONÁRIO DE NOMES GEOGRÁFICOS DE MOÇAMBIQUE - PORTO AMÉLIA

Clique nas imagens acima para ampliar. A citação a Porto Amélia e a Jaime Ferraz Rodrigues Gabão é feita nas páginas 131 e 132.
Leia aqui:
DICIONÁRIO DE NOMES GEOGRÁFICOS DE MOÇAMBIQUE - Sua Origem da autoria de António Cabral "hospedado" na net por Malhanga (Magno Antunes) em sua Biblioteca Moçambique.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Antão de Carvalho - O retrato de uma paixão pelo Douro

“A Régua nunca avaliou o seu grande talento, embora o estremecesse carinhosamente” 
Pina de Morais (Noticias do Douro, 1948)

     Quando visitei, pela primeira vez, o Museu dos Bombeiros da Régua surpreendeu-me ver exposto um retrato de Antão de Carvalho na galeria dos sócios beneméritos. Confesso que desconhecia, por completo, que tivesse qualquer afinidade pessoal ou institucional de relevância na história da associação.
     O que eu sabia da biografia do Dr. Antão Fernandes de Carvalho em nada o relacionava com factos ou acontecimentos da história da Corporação dos Bombeiros. Sabia que era natural de Vila Seca de Poiares, onde nasceu em 1871 e que se tinha formado em Direito pela Universidade de Coimbra. Proprietário rural e viticultor exercera com fama a profissão de advogado e desempenhara funções políticas relevantes, entre as quais, as de Presidente da Câmara do Peso da Régua, Deputado da Nação e Ministro da Agricultura.
        Conhecia-lhe referências da sua acção como paladino do Douro, o mais combativo, reivindicativo e devotado defensor regional, e o fervor pelas ideias do regime republicano, o qual que representou politicamente na Régua ainda no tempo da monarquia. Coubera-lhe a missão de, no dia 10 de Outubro de 1910, em substituição do monárquico presidente da câmara ler, no salão nobre dos Paços do Concelho, com a assistência de muito povo, forças militares, autoridades civis e representantes de associações locais – aqui, quase de certeza, estariam presentes os directores da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários - o texto de proclamação da República.
       Com a queda da monarquia, Antão de Carvalho assumiria a presidência da câmara da Régua e, no cumprimento dessas suas funções, suspeitei eu que tivesse concedido significativo auxílio e cooperação à Corporação de Bombeiros, fundada em 28 de Novembro de 1880 e, agora, comandada por um intelectual de mérito, José Afonso de Oliveira Soares. Embora distinguida por “Real Associação” pelo Rei D. Luís, na instituição o espírito republicano sentia-se presente em muitos associados e bombeiros que professavam os ideais do novo regime. Por certo, estes bombeiros voluntários esperavam que Antão de Carvalho fomentasse mais apoio, já que careciam de materiais para os fogos e de instalações apropriadas para a sua sede e o quartel. 
       A ter assim acontecido, o que eu não tinha a certeza, estava estabelecido o elo de ligação de Antão de Carvalho e o Corpo de Bombeiros para que, mais tarde, fosse distinguido o como Sócio Benemérito. O meu entendimento precisava de ser confirmado com um testemunho credível, mas as pesquisas foram infrutíferas. Com valor e interesse encontrava uma carta manuscrita pela D. Zélia Carvalho, sua irmã, a agradecer a gratidão dos bombeiros pelas dávidas e, no Salão Nobre, estava uma pintura do retrato do cunhado António Fernandes Carvalho.
    De qualquer forma, sentia-me orgulhoso por esta figura histórica de importância nacional, dotado de valores e de humanismo, o activista militante na defesa de região duriense, estar presente na história dos bombeiros. Sinceramente até deixei de considerar importante saber qual terá sido o seu contributo para com os bombeiros mas, para mim, estaria relacionado com a sua acção como presidente da câmara, no período de 1915-1925, Julgava eu - e bem, afinal - que poderia ter prestado à corporação uma valiosa colaboração institucional, assim garantindo às populações a protecção e o socorro de bens e vidas.
     Mas quando eu menos esperava, ao consultar edições antigas do jornal Notícias do Douro, encontrei a justificação para que aquele retrato de Antão de Carvalho estivesse guardado no museu dos bombeiros. O essencial estava narrado numa notícia que dava o seu falecimento, no dia 13 de Agosto de 1948. Assim, nestes termos simples: “...que à Presidência do snr. Dr. Antão ficou devendo valiosos serviços, entre os quais, quais a instalação do seu quartel da Rua dos Camilos.”
      Foi nesse quartel, uma velha casa sem condições, onde os carros e as ambulâncias mal cabiam, que os bombeiros estiveram instalados, desde 1923 até 1954. Tiveram de esperar muito tempo, nesse local, para abrirem as portas do novo quartel, uma construção de raiz, projectada por arquitecto famoso, mas conseguiram realizar o objectivo que ficará por concretizar nos mandatos de Antão de Carvalho na presidência da Câmara.
       Quando morreu Antão de Carvalho, o Douro e a Régua ficaram de luto. As principais instituições que ele estivera ligado, como a Câmara Municipal, a Casa do Douro e o Grémio dos Vitinicultores, colocaram bandeira a meia haste. O mesmo fez a Associação Humanitária em sinal de respeito pela perda do seu distinto Sócio Benemérito. Os directores e um piquete de bombeiros fizeram-se representar nas cerimónias fúnebres. Os bombeiros carregaram com a sua urna aos ombros até ao pronto-socorro Buick que a transportou para Vila Seca de Poiares, onde o seu corpo foi repousar, por alguns momentos, na velha casa de família, a Casa Amarela. Por fim, sempre acompanhado pelos bombeiros, o cortejo retomou o caminho em direcção do cemitério de Poiares e aí foi sepultado.

“O Dr. Antão de Carvalho ocupa um lugar primancial na galeria dos grandes homens de todos os tempos que o Douro tem tido”- Júlio Vasques (A Defesa do Douro,1930)

     Antão de Carvalho não morreu, se pensarmos que ficou a sua obra que construiu com empenho cívico, determinação, inteligência e muita paixão a pensar no bem colectivo. Como o mais carismático e eminente dos paladinos do Douro fez parte de elite social, económica, cultural e política que dirigiu um movimento de defesa dos lavradores do Douro: a disciplina da produção, o aumento dos preços e o escoamento do vinho do Porto. Ele foi líder principal de uma reforma institucional do sector vitinícola duriense. Na sua casa, no Largo Sacadura Cabral, nº61, na Régua, redigiu as bases e depois o contra-projecto que criou na Régua, em 1932, uma organização associativa para representar interesses da lavoura, a Federação Sindical dos Vitinicultores do Douro - Casa do Douro.
        Os amigos chamaram-lhe o “João das Regras” do Douro e que representava a “Voz do Douro”.Pina de Morais, escritor nascido em Valdigem seu contemporâneo, com quem conviveu na defesa da mesma causa, definiu-o como um “Jurista Romântico”. Escreveu numa brilhante crónica, depois da sua morte, a lamentar a sua perda irreparável para o Douro, onde sintetizou a razão do qualificativo: “Jurista romântico escrevi eu. Era de facto um jurista romântico, pois aliava a estrutura rígida da lei, o romantismo dos homens de 1820 e o seu sonho infinito que nimba as almas que se dão inteiramente ao torrão onde nasceram.”
       O escritor João de Araújo Correia traçou-lhe o génio nestas palavras: “Pertencia a uma raça hoje extinta à superfície da terra portuguesa. Era orador. Como advogado, tinha desenvolvido o verbo congenial na prática forense. Fora da teia eleva-o à sublimidade num comício em prol do Douro. Tão orador era, que não sabia escrever. Só sabia ditar.” (..) Antão de Carvalho, homem de palavra tão fácil, que subia com ela ao céu da fantasia numa tertúlia de gente positiva, manteve-se no foro e na política  sem o mínimo desvio. Foi ministro sem deixar de ser jurisconsulto. Se se desgarrava, durante uma conversa, nunca se desgarrou a inquirir testemunhas nem a rezar o credo democrático”
       O seu talento e a sua paixão pelo Douro mereceram do autor do romance Sangue Plebeu, onde evoca o motim de 1915, em Lamego, esta nota de apreciação: “Teria uma biografia brilhante, excepcional, se tivesse ficado nos grandes meios ao serviço do seu país. Tanto melhor para o Douro, porque este não teve nunca, que eu saiba, quem puzesse tanto coração, quem se identificasse e vibrasse com as suas alegrias e sofresse com as suas dores…” 
       A paixão pelo Douro e à sua terra natal, à Régua foi o estado de alma permanente de Antão de Carvalho que o próprio exarou no seu testamento público: “Coerente com os princípios morais, sociais e políticos que dominaram a minha agitada vida e pelos quais indefectivelmente lutei, afirmo, neste solene momento, a minha concordância com a moral cristã na República e o meu anseio de que esta se adapte ao imperativo do progresso, em marcha para uma mais perfeita e justa organização social. No isolamento em que actualmente vivo, tenho sempre presentes no espírito e no coração esta sagrada Região Duriense e a linda terra da Régua, bem como acima de tudo a modesta aldeia em que nasci, dando por bem empregados o trabalho e sacrifícios de toda a ordem que durante anos lhe consagrei.
O meu funeral será feito à vontade do meu testamenteiro, dos adiante nomeados, que aceitar desempenhar o respectivo cargo. Desejo no entanto, que ele seja modesto e simples, espelho do que fui em vida, sem convites ou sugestões e que o meu corpo vá repousar no jazigo de família, ereto no cemitério de Poiares, deste concelho, junto de meus pais e irmãos, como tal considerando o meu bom cunhado António, passando se assim entenderem, na ridente aldeia de Vila Seca, onde nasci, estando ou não depositado algum tempo na velha “Casa Amarela”, relíquia familiar, ou na formosa capelinha de que minha irmã Zélia é desvelada protectora.
Será a ronda do morto sem descanso como na atormentada vida se viu.”
      Razão terá, certamente, João de Araújo Correia, que no artigo “Dois Paladinos” (in Comércio de Porto, de 30-10-65), faz uma enérgica apologia aos históricos defensores da região: “ O Douro, sempre em crise latente, podia contar com os seus paladinos. Confiava neles, secundando-os com os seus vivos e assinaturas. Hoje, se não tiver alguém que o alumie, não sabe donde lhe vem o mal nem de que lado lhe virá o remédio”. Como é verdade quando diz que o Douro de hoje precisa de o voltar a escutar sobre as eterna questão duriense: “Sempre que o Douro sofre, com vinhos por vender ou à espera de pagamento, vou ao cemitério do Peso entrevistar Júlio Vasques. Subo ao cemitério de Poiares para conversar como Dr. Antão de Carvalho. Fora de fantasia, é capaz de me apontar o bom caminho…”.
        Se hoje a sociedade esquece ou ignora os seus melhores, aquele retrato de Antão de Carvalho evoca as memórias de um homem singular que deixou marcas que perduram no nosso tempo. Agora que os lavradores do Douro vivem outra grave crise e que a Casa do Douro por ele idealizada, se encontra quase à beira do fim, percebemos quanto importante e necessário foi este homem para a região duriense, para todos nós que dependemos da economia do vinho.
     Aquele seu retrato está no lugar certo, no lugar daqueles se entregam ao bem, num exemplo de dedicação, altruísmo e generosidade incessante para com o seu semelhante, valores e princípios que Antão de Carvalho defendeu apaixonadamente na sua passagem muito intensa pela vida Significa também dos bombeiros gratidão a um benemérito que em muitos pequenos gestos, tão pequenos que não ficaram registados em nenhum lugar, a não ser numa página de um jornal, mas que tanto significaram para os bombeiros. Quem sabe, se não foi graças, a essa velha casa adaptada a Quartel que lhes permitiu o sonho de construírem um quartel, nesses difíceis anos 30 no Douro e no país, que é o mais belo edifício da cidade do Peso da Régua.
      Se os bombeiros devem muito a Antão de Carvalho, a Régua e região duriense devem-lhe muito mais – ele que foi o maior defensor do Douro e do Vinho do Porto.
- *José Alfredo Almeida, Março de 2012
Parte 1


Parte 2

*O Dr. José Alfredo Almeida é advogado, ex-vereador (1998-2005), dirigente dos Bombeiros Voluntários de Peso da Régua entre outras atividades, escrevendo também cronicas que registram neste blogue e na imprensa regional duriense a história da atrás citada corporação humanitária e fatos do passado e presente da bela cidade de Peso da Régua.
Clique nas imagens para ampliar. Este texto está também publicado nas edições do semanário regional "O Arrais" de 22 e 29 de Março de 2012Texto e sugestão de J. A. Almeida e edição de J. L. Gabão para o blogue "Escritos do Douro" em Março de 2012. Este artigo pertence ao blogue Escritos do Douro. Todos os direitos reservados. É proibido copiar, reproduzir e/ou distribuir os artigos/imagens deste blogue sem a citação da origem/autores/créditos.    

terça-feira, 4 de maio de 2010

As cartas de João de Araújo Correia

(Clique na imagem para ampliar)

Hoje ninguém ou quase ninguém escreve cartas, sejam de mera circunstância, afectos, negócios ou cortesia. Já lá vai o tempo em que se revelava sentidos pesares, em papel timbrado com fita preta ou se felicitava pelos sucessos pessoais. Tão pouco se escreve para corresponder a uma declaração de amor. As cartas perderam a sua função. Hoje manda-se uma pequena mensagem e, quando muito, envia-se um email. Começou uma nova era, a do correio electrónico. Pressagia-se que as cartas, como ainda as conhecemos, começam a ser uma coisa de outro mundo. Se não são já de um outro mundo, pelo menos, fazem parte de um mundo que já passou, de pessoas mais humanistas, como foram os nossos pais e avós, que gostavam de se comunicar num correio de trocas de cartas.

A.M. Pires Cabral é o autor de um interessante trabalho sobre as cartas de João de Araújo Correia. Quem o leu, entende-o como um breve estudo de introdução às cartas que o escritor escreveu a muitas das personalidades do seu tempo, amigos, leitores, conhecidos e oficiais do mesmo ofício, como foi o seu caso. Não sendo um suplemento do seu trabalho, surpreende-nos com a revelação de algumas cartas que o escritor fez questão de lhe dirigir, anotando-as com um pequeno comentário, a contextualizar os motivos de cada uma delas.

O seu trabalho e as cartas transcritas podem ser lidos no “In Memoriam de João de Araújo Coreia”, que acumula outros bons estudos e curiosas evocações pessoais, dedicados em homenagem ao escritor reguense, no ano em que se contam 25 anos após a sua morte.

Estas são algumas das cartas de João de Araújo Correia inéditas, mas ao que se sabe, fazem parte de uma vasta correspondência que escritor deixou guardada nos seus baús. Parece que aguardam quem as leia, estude, organize por temas e ideias, ou mesmo outros critérios, para que possam, muito em breve, ser publicadas em forma de livro. Alguém se encontra encarregado de realizar esse trabalho. Se o espólio do escritor guarda as cópias, os seus originais andam espalhados por múltiplos arquivos pessoais. Ninguém ignora que são incontáveis os destinatários das suas missivas e que, em alguns casos, caíram na posse de escrupulosos herdeiros, avessos a que elas percam o foro íntimo e privado.

O escritor duriense era mestre a escrever uma carta. Há quem afirme que o fazia ao “correr das teclas” da máquina de escrever. E, que nunca escrevia por escrever, como que se estivesse a cumprir uma obrigação. Como diz Pires Cabral, tinha uma verdadeira perícia no saber “bolear uma carta de maneira a que não fosse um recado seco, mas algo emocionalmente envolvido.”

Convém lembrar que João de Araújo Correia esteve, desde sempre, ligado aos bombeiros da Régua.

O escritor, como devoto admirador dos bombeiros, foi amigo de muitos directores, comandantes e dos velhos Soldados da Paz. Nunca escondeu a sua carinhosa simpatia e dedicação pelos valores do voluntariado e do associativismo. O seu pai que fora bombeiro, por algum tempo nas primeiras corporações, no tempo dos fundadores, permitiu-lhe conhecer os primórdios da instituição. Em sua casa guardou, até morrer, uma tábua dos sinais de incêndios, que o faziam saber em que rua da vila andava o fogo, quando sino da Capela do Cruzeiro dava os respectivos toques. Conviveu de perto com alguns dos bombeiros da velha guarda, com quem fez tertúlias, como os seus amigos, o artista e Comandante Afonso Soares e o delicado Lourenchinho. A convivência que deles tinha, levou-o a escrever sobre alguns dos seus personagens mais castiços. Recordou-nos do passado, figuras da estatura de Camilo Guedes, José Avelino, o Riço, o Justino Lopes Nogueira e o funeral do capelão Padre Manuel Lacerda, que não chegou a ver passar na rua…! Emocionou-se com a morte trágica do bombeiro João Figueiredo, o João dos Óculos, no incêndio da Casa Viúva Lopes, ao dedicar-lhe um soneto. Teve a sorte de frequentar o primeiro quartel e de admirar a velha estante cheia de livros, que o seu olhar de rapazinho de dez ou onze anos, nunca mais os esqueceu. Mais tarde, aceitou dar a sua colaboração no jornal da associação “Vida por Vida”, órgão oficial dos bombeiros, dirigido pelo talento literário do seu filho Camilo. Nas páginas desse extinto boletim, anos a fio, escreveu ele admiráveis crónicas, mais tarde reunidas nos livros “Pátria Pequena” e “Enfermaria do Idioma”.

João de Araújo Correia correspondeu-se, amiúde vezes, com os directores dos bombeiros da Régua. Algumas das cartas que lhes dirigiu, fomos encontrar arquivadas em velha caixas de madeira, ao lado de documentos menos valiosos, como facturas, orçamentos com previsões de grandes sonhos e obras e relatórios de contas do muito se recebeu e que se gastou.

Quando as consultamos, sentimos que o escritor nelas nos revela a sua envolvência no meio social. As suas pequenas observações da ambiente quotidiana privilegiam o valor e trabalho dos bombeiros como um exemplo de grandeza humana.

Aos seus olhos, os bombeiros são uma força invicta: “Quando tudo falece, pela palavra tudo, a longa vida dos nossos bombeiros é um sinal de força invencível. Comparo-a à vida de uma árvore, que tenha escapado à fúria dos temporais para se prolongar como símbolo de eternidade” e merecem-lhe este elogio: “A Régua, se não vegeta, é porque vai vivendo no ânimo dos seus Bombeiros.” Com uma apreciação assim, é suficiente para os bombeiros lhe ficarem, para sempre, gratos.

As cartas de João de Araújo Correia para os bombeiros da Régua, para lá do esmero e originalidade da linguagem em que são escritas, testemunham a sensibilidade do escritor, a sua urbanidade, o respeito no trato afectuoso pelos seus concidadãos, e a grande consideração que tributa à associação e ao seu corpo de bombeiros.

Propomos a leitura atenta de seis cartas das suas cartas:

PRIMEIRA CARTA:

"Exmo Senhor
Alfredo Baptista
Dig.mo Secretário da Direcção dos B. Voluntários

Eu e minha irmã solteira, Maria Ana de Araújo Correia, sócios contribuintes dessa Associação, agradecemos reconhecidos os serviços prestado pela sua ambulância no dia 18 do corrente. O que se não agradece, por falta de palavras próprias, é a solicitude com que foi executado. Há dedicações tão perfeitas, que só a gratidão silenciosa, indelevelmente guardada no coração, lhes poderá corresponder. Pertence a essa espécie, inefável por natureza, o modo como os Bombeiros procederam, transportando minha irmã, recentemente operada de fractura óssea, desde a Casa de Saúde de Lamego até o meu domicílio.
Queira V. Ex.ª aceitar os meus respeitosos cumprimentos.

Peso da Régua, 28 de Abril de 1955"

SEGUNDA CARTA:

“Peso da Régua, 4 de Agosto de 1960

Ex.mo Senhor
Dr. Júlio Vilela
Dig.mo Presidente da Direcção dos
Bombeiros Voluntários do Peso da Régua

Ex.mo Senhor e meu prezado Amigo:

Venho renovar a V. Exª o meu bem-haja pela sessão efectuada em minha honra, a 30 de Julho último, no salão nobre da associação a que V. Exª preside.
A sessão, realizada acto contínuo à minha chegada de Lisboa, onde escritores e amigos me festejaram como publicista, desvaneceu-me como reguense amigo da terra. Pude verificar o contrário do que imaginava. A Régua, pouco afecta a espiritualidades, salvou-se no meu conceito do labéu de ingrata com quem a representa, melhor ou pior, fora do limite das suas barreiras. Graças a V. Exº e outros membros da direcção, nomeadamente o Sr. Alfredo Baptista, patenteou-se a meus olhos e à consciência do resto do país a dignidade da nossa vila. Bem o estimo por mim e pelo meio em que vivo. Seria vergonhoso que o meu amor ao Douro, manifesto em cada um dos meus escritos, fosse correspondido com desdém na sua capital.
Respeitosamente me subscrevo,

De V. Exª
Admirador, patrício e amigo reconhecido”

TERCEIRA CARTA:

“Peso da Régua, 27 de Janeiro de 1970

Ex.mo Senhor
Dr. José Lopes Vieira de Castro
Dig.mo Presidente da Associação dos
Bombeiros Voluntários do Peso da Régua

Ex.mo Senhor:

Respondo ao prezado ofício de V. Ex.ª datado de 22 do corrente.
Tanto V. Ex.ª como a Ex.ma Direcção a que preside consideram imprescindível a minha colaboração do boletim VIDA POR VIDA. Não estou de acordo com V. V.Ex.as neste particular, Não falta quem escreva no boletim VIDA POR VIDA para lhe manter a boa tradição de brilho e de valor.
Concordo com V. V. Ex. as em considerar que foram alheios à actual Direcção os motivos que me afastaram do boletim VIDA POR VIDA. Nestas condições, recusar-me a colaborar de novo seria demasiada impertinência e até grosseria. Sou incapaz de praticar esses delitos perante a boa vontade que V. V. Ex. as manifestam no sentido do meu regresso ao VIDA POR VIDA – órgão de uma associação digna do meu zelo e até do meu sacrifício.
De acordo com a minha saúde, que vai sendo pouca, e com o meu vagar, quase sempre reduzido a escassos minutos, colaborarei confiado nas atenções que mereçam as minhas atenções. Assim o espero de V. Exª e de quem superintenda na redacção do jornal.
É-me grato manifestar a V. Exª, nesta oportunidade, a minha consideração e respeitosa estima.

A BEM DA HUMANIDADE”

QUARTA CARTA:

“Peso da Régua, 26 de Novembro de 1971

Exmo Senhor
Joaquim Lopes da Silva Júnior
Dig.mo Vice-Presidente da Direcção dos Bombeiros

Meu Ex.mo Amigo:

Venho agradecer-lhe o honroso convite para me associar às comemorações de novo aniversário dos nossos bombeiros. Muito obrigada por se lembrarem mim para tomar parte numa série de solenidades que inspiram grande simpatia. Sempre me comoveu, desde a minha infância, uma festa tão inefável como festa de família.
Muito gostaria de comparecer, como sócio contribuinte, no grupo dos meus consócios e perante o Corpo Activo para o saudar por mais uma vitória. Não é pequena vitória completar sem declínio 91 anos de idade.
Opõe-se ao meu desejo, neste fim de Novembro, a minha pouca saúde e outros empecilhos. Não me é possível removê-los neste momento para me sentar, como no ano passado, à mesa dos meus amigos, que são os nossos Bombeiros. Mas, para provar que lhe quero bem, não desisto de colaborar com eles no intervalo das festas.
É já um truísmo cansado isto de se dizer, a propósito dos nossos bombeiros, que são a única gente que teima em representar, neste nosso meio, um papel tão nobre, que a distingue da apatia comum. Convém, no entanto, fazer desse truísmo um motivo de orgulho. Convém repeti-lo em cada ano com tanta satisfação como desgosto. A Régua, se não vegeta, é porque vai vivendo no ânimo dos seus Bombeiros.

Cordialmente me subscrevo,

De V. Exª
Amigo certo e reconhecido”

QUINTA CARTA:

“Peso da Régua, 27 de Novembro de 1975

Ex.mo Senhor
Dias Montesinho
Bombeiros Voluntários
Peso da Régua

Ex.mo Senhor:

Na pessoa de V. Excia, digníssimo secretário da Direcção dos Bombeiros desta vila, felicito a nobilíssima corporação por mais um ano de vida. Cumpro este dever como se cumprisse um voto religioso. Quando tudo falece, pela palavra tudo, a longa vida dos nossos bombeiros é um sinal de força invencível. Comparo-a à vida de uma árvore, que tenha escapado à fúria dos temporais para se prolongar como símbolo de eternidade.
Por falta de saúde e outras atribulações, é-me impossível tomar parte nas festas comemorativas do venerável aniversário. Fico-me por casa, sem deixar de agradecer a V. Exª o honroso convite para o acompanhar na execução do programa constante do seu ofício 83/75.

De V. Exª
Cordial e respeitosamente”

SEXTA CARTA:

“13 de Julho de 1980

Ex.mo Senhor
Secretário da Direcção dos
Bombeiros do Peso da Régua

Ex.mo Senhor:

Para corresponder ao amável convite de V. Excia, para colaborar num livro comemorativo do centenário da sua Associação, tive a honra de lhe remeter, pelo Sr. António Luís Pinto, empregado da Imprensa do Douro, três originais.
Trata-se de uma crónica inédita, intitulada História dum Soneto, e de dois artiguinhos que devem ser agora republicados.
Suponho que nenhum dos meus escritos, enviados a V. Excia pelo Sr. António, destoarão da índole do livro. Todos aludem a tempos idos da Associação.
Como tenho tido medo a gralhas tipográficas, não dispensarei a revisão de provas. Podem estas ser enviadas pelo dito Sr. António Luís Pinto – seja qual for a tipografia que imprima o livro.
Com a maior estima e consideração.

At.ª e Obg.ª”

Se os bombeiros da Régua para evocar João de Araújo Correia não sabem expressar mais palavras de admiração, saudade e respeito, não se esquecem de retribuir a gratidão e a luz com os foi distinguindo ao longo de toda uma vida. Os bombeiros conhecem, como mais ninguém, esta verdade: não há no mundo exagero mais belo que a gratidão, ela é a memória do coração…!
- Peso da Régua, Abril de 2010, J. A. Almeida.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Comboio a vapor na linha do Corgo

(Clique na imagem para ampliar - Imagem original na net de 'sinid')

Segundo a Wikipédia, "A Linha do Corgo é uma linha de caminho-de-ferro desactivada, que unia as localidades de Chaves e Régua, em Portugal; foi inaugurada em 1 de Abril de 1910, com a chegada do comboio a Vila Real, e concluída a 28 de Agosto de 1921, com a chegada a Chaves.

A via utilizada é de bitola métrica. Supera um desnível de 370 metros nos 25 quilómetros entre a Régua e Vila Real, serpenteando o vale do Rio Corgo, sendo famosas as histórias passadas no "U" de Carrazedo, onde a linha contorna um vale antes de atingir a estação. Com a reduzida velocidade do comboio, muitos se aventuraram a sair dele, e a apanhá-lo mais à frente, aproveitando para colher uvas ou cerejas pelo caminho. A linha possuía outro "U" na rampa entre Loivos e Oura, actualmente sem tráfego ferroviário, levando o comboio a vencer numa pequena distância um grande desnível, apenas possível neste formato dada a grande restrição de inclinação nas vias-férreas.

Pouco depois da chegada da Linha do Douro à Régua, em 15 de Julho de 1879, planeou-se a construção de um caminho de ferro entre este ponto e as cidades de Vila Real e Chaves, passando pelo vale do Rio Corgo; foram, assim, efectuadas várias tentativas, como a da Companhia do Porto à Póvoa e Famalicão, que esteve quase a ver concedida a garantia de juro, ou os estudos efectuados por Emídio Navarro. Em 12 de Abril de 1897, os empresários Alberto da Cunha Leão e António José Pereira Cabral obtiveram a concessão para a construção e gestão do Caminho de Ferro da Regoa a Chaves; não encontraram, no entanto, apoio financeiro para este projecto, pelo que pediram a rescisão do contrato em 1902.

Esta ligação foi, então, inserida no plano de 15 de Fevereiro de 1900, mas os concursos lançados em 2 de Agosto e 2 de Dezembro de 1902 não tiveram qualquer resultado, pelo que uma lei de 18 de Fevereiro do ano seguinte ordenou que o estado iniciasse imediatamente a construção da linha, entre a Régua e a fronteira; o projecto de 1897 de Alberto da Cunha Leão foi revisto, tendo as obras principiado após a publicação das leis de 24 de Abril e 1 de Julho de 1903, que forneceram os meios necessários para a construção. O troço até Vila Real foi aberto à exploração em 12 de Maio de 1906, tendo a linha chegado às Pedras Salgadas em 15 de Julho de 1907 e a Vidago a 20 de Março de 1910.

Uma portaria de 17 de Abril de 1915, fundada nos pedidos da população de Chaves, e baseada nos pareceres do Conselho Superior de Obras Públicas e Minas, apresentados no dia anterior, ordenou que o troço entre Moure e Chaves fosse construído pela margem direita do Rio Tâmega, mas foi revogada por outra portaria, publicada em 10 de Julho, que determinou que a linha seguisse a margem esquerda; no entanto, e apesar dos trabalhos terem já sido iniciados pelo novo traçado, verificou-se que o traçado primitivo oferecia melhores condições técnicas, seria menos dispendioso, e fornecia uma melhor posição para a futura continuação até à linha entre Medina del Campo e La Coruña, da rede ferroviária espanhola, pelo que a Portaria 1459, de 2 de Agosto de 1918, ordenou o regresso ao projecto original, pela margem direita.

O troço entre Vidago e Tâmega foi inaugurado em 20 de Junho de 1919, e, em 28 de Agosto de 1921, foi aberta à exploração a linha até Chaves.

Esta linha foi arrendada pelo Estado à Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses em 27 de Março de 1927, que a subarrendou à Companhia Nacional de Caminhos de Ferro por um contrato de 11 de Março do ano seguinte.

Após um avultado investimento na via, o Estado decidiu encerrar o troço Vila Real - Chaves em 1 de Janeiro de 1990.

O troço restante, entre a Régua e Vila Real, foi encerrado pela operadora Rede Ferroviária Nacional a 25 de Março de 2009, por questões de segurança; esta entidade esperava reabrir a linha à circulação em 2011, tendo, em Novembro, iniciado um estudo às populações entre Vila Real e Peso da Régua, que pretendia reconhecer as necessidades das populações, de forma a ajustar o futuro funcionamento da linha. Nesse ano, a então secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, anunciou que iriam ser investidos 23,4 milhões de euros em obras de reparação da linha, prevendo que estariam terminadas antes do final de 2010.

Em finais de 2009, terminaram as primeiras fases desta intervenção, que consistiram na retirada de carris e de travessas e alterações na plataforma de via; em seguida, a Rede Ferroviária Nacional iniciou a criação de vários projectos de geotecnia, de drenagem e de via; esta aparente paragem nos trabalhos provocou alguns receios entre as populações e autarcas locais. Além disso, e como previsto, esta entidade iniciou, em 2010, um programa de inquéritos nos principais pontos de atracção e geração de viagens, nas escolas, e aos utentes dos transportes públicos rodoviário e ferroviário, por forma a reconhecer os padrões de mobilidade das populações abrangidas; esta informação foi, posteriormente, analisada, de forma a preparar soluções de transporte integrado rodoviário e ferroviário.

Em Abril do mesmo ano, a Assembleia Municipal de Vila Real, presidida por Pedro Passos Coelho, aprovou uma moção, exigindo ao governo que se inicie a segunda fase nas obras da Linha. Luís Pedro Pimentel e António Cabeleira, deputados do Partido Social Democrata, entregaram um requerimento na Assembleia da República, por forma a que o governo informe sobre as datas de reinicio e conclusão de obras, e se a Linha estará requalificada e reaberta até Setembro de 2010, como havia sido prometido anteriormente pelo Ministro das Obras Públicas.

Em Julho, a Rede Ferroviária Nacional decidiu suspender, entre outros investimentos, o projecto de reabilitação da Linha do Corgo, de acordo com as directrizes do Plano de Estabilidade e Crescimento, que prevê restrições orçamentais e o combate ao endividamento público.

O Movimento Cívico pela Linha do Corgo, ou simplesmente MCLC, é um grupo de cidadãos que pretende promover e divulgar a Linha do Corgo tanto na região onde esta se insere como fora desta, através da informação sobre as condições da via, sua história e necessidades da população por ela servida.

Acompanhando as várias notícias sobre a Linha do Corgo, e reivindicando e apresentando soluções aos autarcas dos vales do Corgo e do Alto Tâmega, promoveu já uma concentração na estação de Vila Real pela reabertura tanto do troço Régua - Vila Real como do restante troço até Chaves, que contou com a presença de cerca de cem populares da região, servidos pela Linha do Corgo, incluindo ex-ferroviários e ferroviários no activo."